sábado, junho 10, 2006

 

Notícias do Dia Seguinte

Prova documental (vídeos de práticas pedófilas) misteriosamente perdida nos corredores da investigação criminal do caso "Casa Pia", revogação governamental de uma decisão fundamentada da Autoridade da Concorrência quanto à Brisa, graxa insistente mas infecunda do Primeiro-Ministro a diversos líderes de multinacionais para "investirem" mais - ou pelo menos não investirem menos! - em Portugal, teimosia do Ministro das Finanças em manter previsões para crescimento e redução do défice apesar do aumento do preço do petróleo e das taxas de juro e combate político entre Ministra e professores travado através dos jornais, como a notícia de hoje no "Expresso" sobre o número de docentes com estatuto de incapacidade de serviço bem ilustra.
O que é tudo isto? É o relatório semanal sobre o estado do Estado Português. É caso único? Não - veja-se a Itália ou a França. O problema é que por cá a sociedade habituou-se a viver pendurada no Estado, um traço da cultura política lusófona brilhantemente descrito no clássico do brasileiro Raimundo Faoro "Os Donos do Poder". E em termos de sociedade civil, o relátório semanal é igualmente catastrófico: 10 mil professores "pedem" para não dar aulas por razões sobretudo psicológicas, médicos mostram-se "escandalizados" com acusações de cartelismo baseadas em dados objectivos, extrema-direita liderada por atrasados mentais com sintomas de psicopatia recebe tempo de antena e, finalmente, "O Expresso", um tablóide que passa por jornal sério num país como este, pergunta a um grupo de "capitalistas à portuguesa" se o mundial de futebol vai afectar seriamente a produtividade da economia portuguesa nas próximas semanas.
Os intelectuais, quando não caem em modas pós-modernistas ou latino-americanas, refugiam-se nestes casos na universidade. O que é mau para a "produtividade" nacional, não se duvide. Mas nós não corremos esse perigo: as universidades portuguesas são ainda muito piores que o Estado ou a Sociedade Civil. De modo que só resta rir muito, insistir nas ideias e cultivar o cinismo. Isto, claro está, quando não for caso para emigrar de vez...

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